Uma das mensagens de Vianney está
apresentada em O Evangelho Segundo o Espiritismo [tradução de Salvador Gentile]
com o título “Bem-aventurados os que têm os olhos fechados”, no capítulo VIII
(“Bem-aventurados os que têm puro o coração). Essa mensagem foi dada por
ocasião da presença de uma pessoa cega em uma das reuniões mediúnicas de estudo
da Kardec.
No
primeiro parágrafo, ao questionar se o motivo da sua presença na reunião era
para proceder a cura da pessoa cega, Vianney afirma que não sabe fazer
milagres, “sem a vontade do bom Deus”, a qual podemos associar aos ensinamentos
do Mestre quando dizia “tua fé te curou”. Jesus deixava claro que ao
estabelecer sintonia com Deus, nós permitimos a nossa cura interior. Não basta
acreditar em Deus; é preciso ter a certeza de ser parte integrante da criação
divina.
A
seguir, Vianney nos exorta a fazer o seguinte pedido a Deus: “Meu Pai,
curai-me, mas fazei que minha alma
doente seja curada antes das enfermidades do meu corpo” (grifos nossos).
Nessa passagem, o cura d´Ars nos esclarece que a cura é da alma para o corpo e
não o contrário. O sofrimento do corpo não garante a cura, mas dá o impulso
necessário para a mudança, a oportunidade para que mudemos o nosso interior. A
mudança interior, por sua vez, traz a cura.
Durante
todo o tempo de nossa jornada na Terra, nessa ou em outras encarnações,
encarnados ou na erraticidade, nós temos contato com a mensagem sublime do
Cristo. Porém, ainda assim, nós não estabelecemos sintonia com o divino Mestre
e a nossa fé ainda não é suficiente para sermos curados totalmente. Ou seja, o
maior médico da história da Humanidade não consegue nos curar se nós não o
desejarmos e não trabalharmos a nossa mudança interior. E nos basta “fracos
esforços” para vencer as nossas más tendências (O Livro dos Espíritos, questão
909).
Vianney
afirma que “aqueles que estão privados da vista deveriam se considerar como os
bem-aventurados da expiação”. Nós enxergamos ou estamos privados da vista? E,
se enxergamos, vemos claramente?
Na
passagem “A cura do cego de nascença” (João 9: 1-41, O Novo Testamento –
tradução de Haroldo Dutra Dias), Jesus afirma que veio a este mundo “a fim de
que os que não veem vejam e os que veem se tornem cegos” (João 9: 39), a qual
aparenta uma contradição com a postura do Mestre. E, Jesus continua respondendo
aos que estavam entre os fariseus, quando lhe perguntaram se eles também eram
cegos: “Se fôsseis cegos não teríeis pecados; agora, porém, que dizeis “vemos”,
permanece o vosso pecado” (João 9: 41). A mensagem de sublime amor de Jesus
veio para tocar todos os corações da Terra. Então, os que não estão mais
satisfeitos em ver as coisas do mundo, admirarão as obras do Criador com os
olhos do espírito ao se aprofundarem nas verdades transmitidas pelo Cristo.
Quanto aos que enxergam as coisas do mundo e se comprazem com elas, esses
continuarão cegos para as imagens celestiais do nosso Pai e, consequentemente,
permanecerão em pecado. Uma vez que a mensagem do Cristo veio para toda a
Humanidade, os que dizem enxergar, se farão cegos para as verdades de
Jesus. Porém, o Cristo veio abrir os
olhos aos cegos do mundo, aos que não admitem mais enxergar e, portanto, estão
cegos para as coisas mundanas, ou seja, se encontram preparados para a mudança
interior.
A reforma íntima é portanto o caminho para a
cegueira no mundo, para a cura da alma e para a clareza espiritual. É o retorno
do filho pródigo. Depende de cada um.